Tenho curiosidade de saber se dá pra rodar pobre num álcool turbo em baixa carga, visando melhora de consumo. Fura pistão? Alguém tem conhecimento?
Bem, já acertei alguns carros, tanto na gasolina quanto no álcool, então acho que posso opinar.
Tenho um Vectra GSI turbo rodando no álcool (taxa original de gasolina 10,5:1), e rodo tranquilamente com lambda 1,1 a 1,15 em baixa carga. O consumo do carro é excelente para um carro pesado, com motor destaxado e com mais de 300cv: entre 7 e 8km/l na cidade e cerca de 11km/l na estrada, andando bem tranquilo. E sim, mistura pobre faz o carro beber menos, é fato. Foi citado o exemplo do Honda D15, e sei que o K20Z3 (Civic Si) usa a mesma estratégia de "lean cruise", inclusive, usando um catalisador especial para isso.
Quanto ao AFR, fisicamente ele muda entre gasolina e álcool, mas para efeito de acerto isso não nos interessa, pois o que a sonda mostra é o fator lambda, e nesse aspecto, os valores ideais não mudam muito entre gasolina e álcool. As sondas que mostram AFR e não possuem configuração de combustível não sabem se o motor está rodando com gasolina, GNV, metanol, álcool etc, ou seja, AFR 14,7 no display da sonda vai ser sempre lambda 1, não importa o combustível.
Quanto ao ganho com álcool em um motor destaxado, isso varia um pouco de motor para motor. Um pessoal aqui no Rio já fez uns testes em dinamômetro, e concluíram que o ganho de potência com taxa na verdade é bem pequeno, e um ganho bem próximo era conseguido apenas se ajustando o ponto de ignição. Acredito que a maior diferença seja no consumo.
O Matheus (cujo conhecimento jamais ousarei questionar, mais da metade do que sei de motores eu aprendi com ele) falou em ganho de 2 a 3cv num M50, mas acredito que a gasolina considerada seja de alta octanagem, como a Podium, pois em relação à gasolina comum, o ganho certamente é maior. O Clio 1.6 16v flex, por exemplo, com sua modesta taxa de 9,8:1, salta de 110cv para 115cv usando álcool, apenas com correção de mistura e ponto de ignição.
Porém, vale lembrar que o motor do Clio sequer tem sensor de detonação, e como o Matheus já mencionou, a estratégia dos flex é ajustar tanto a mistura quanto o ponto de ignição com base na leitura da sonda, ou seja, a ECU estima que a porcentagem de gasolina no tanque é de, por exemplo, 60%, e usa um mapa de ignição pronto para esta situação, sem levar em conta a octanagem da gasolina usada no momento. E como não há sensor de detonação, o mapa precisa ser conservador. Resumindo, se os mapas do Clio fossem para Podium, em vez de gasolina comum, a diferença de potência entre gasolina e álcool seria bem menor. Além, é claro, de a Podium deixar bem menos resíduos.
Vale a pena fazer a conversão para álcool? Bem, se usar gasolina comum, o ganho é perceptível, tanto em potência, quanto em "limpeza" do motor. Se usar Podium, já não acho tão vantajoso assim num aspirado "civil", a não ser que o preço e a disponibilidade da Podium sejam fatores muito incômodos.